sexta-feira, 29 de abril de 2016

A VIA ELEITORAL DEU ERRADO



            Não é nenhuma novidade, que na história da classe trabalhadora, a opção da inserção na ordem pela via eleitoral, sempre foi um dilema. No caso brasileiro, mais do que um dilema, revela-se uma frustração jamais vista em nossa história. E por que? Não tendo todas as condições ou por opção conciliadora, os governos ditos populares, não aplicaram teorias econômicas anticapitalistas, ao contrário, recorreram às teorias já postas, de John Maynard Keynes que pregou o consumo desenfreado, o endividamento e o crescimento pelos investimentos do Estado e, no final, migraram para o “monetarismo” de Milton Fridman que pregou o controle monetário, retirando os créditos e controlando a inflação pela dificuldade do consumo e acesso à moeda.  
            O princípio revolucionário de que se deve priorizar e lançar mão de todas as formas de luta continua válido. É assim que acumulamos força e vamos descortinando o horizonte da revolução; enquanto as massas fazem o seu aprendizado, amadurecem e ajudam a construir, através das táticas, o objetivo estratégico. No entanto, é importante recapitular que o princípio prega o uso das “diferentes formas de lutas” e não o amortecimento de muitas para o fortalecimento de uma, se é que se podem chamar as disputas eleitorais ainda de lutas.
            Às vezes é difícil explicar as contradições, mesmo que os elementos estejam evidentes. Mas, o Estado Moderno cuja forma política centralizada de poder surgiu com  o capitalismo, nada mais é do que o instrumento de apoio ao capital para que ele possa se reproduzir com maior segurança. Para isso, constituiu um poder específico só para fazer leis que, ideologicamente escondem interesses e podem de um momento para outro, inverter o processo e fazê-lo seguir de ponta-cabeça. Para enquadrar os inimigos, basta formar uma maioria. Se não há lei, fabrica-se uma; se não há crime, inventa-se.
Na medida em que as forças revolucionárias aceitaram a jogar o jogo da legalidade desde a década de 1980, ganhando e perdendo civilizadamente, na hora em que tudo parece ser legal, mesmo não havendo crime, a desobediência às leis fica comprometida. O resultado pode até ser contestado, mas o jogo chega ao fim. Então chega a hora da dura avaliação de que, do ponto de vista estratégico, a presença dos trabalhadores nos governos do Estado capitalista deu errado.
            Mas por que os capitalistas e aliados, como os banqueiros, os fazendeiros, os produtores de veículos e de eletrodomésticos etc. revoltaram-se, se no percurso do projeto que golpeiam, foram os que mais ganharam?
Sabem essas forças que a crise é econômica, nacional e internacional, mas a disputa é pelo Estado e, nas políticas de bem-estar-social implementadas, os custos governamentais aumentaram que só há duas maneiras de resolvê-los: aumentando impostos ou aniquilá-los, mesmo que sejam direitos garantidos pela Constituição de 1988. A raivosa ofensiva da direita é contra os direitos sociais contidos na Constituição e que até aqui não havia força para destituí-los e contra os programas sociais que o PT tentou implementar, sem prever as fontes de pagamento.
Fica a lição, de que na sociedade de classes, não há como beneficiar os dois lados. Toda vez que os trabalhadores pensarem em disputar eleições para chegar ao governo (não ao poder), terá que ter o propósito antecipado de punir os exploradores taxando as suas fortunas, quando não, confiscando-as, caso contrário não há como distribuir renda e riqueza no capitalismo. E toda vez que isto não for feito, as disputas eleitorais darão errado.                         Ademar Bogo, filósofo, escritor e agricultor.