domingo, 24 de julho de 2016

ESCOLA COM PARTIDO



            Estamos diante de uma ofensiva criminosa, praticada pelo governo e pelo capital contra os direitos sociais, as organizações de luta dos camponeses, indígenas, quilombolas, povos tradicionais etc., facilitada pela correlação de forças, favorável ao agronegócio, que transforma a agricultura num imenso território produtor de mercadorias. Por isso, o fechamento das escolas é o ataque final na coluna vertebral da resistência camponesa. 
Vagueia paralelamente na ideologia da classe dominante, para o meio urbano, a domesticação do ensino, através da “Escola sem partido”. Para os camponeses, diante das várias dezenas de milhares de escolas fechadas nos últimos 15 anos, essa ideologia nada mais é que a continuação da política do “partido sem escola”, representado pela sigla do agronegócio, o verdadeiro partido dirigente das mudanças assassinas no campo.
Marx, quando escreveu o livro, O capital, disse que, no capitalismo, “o país mais desenvolvido não faz mais do que representar a imagem futura do menos desenvolvido”. Essa indicação nos diz também que, pelas economias mais avançadas, explica-se a situação das economias mais atrasadas e nos aponta o caminho que elas deverão percorrer no futuro. Por outro lado, ainda nos revela que, certas políticas implantadas nas regiões mais desenvolvidas de um país, serão com o passar do tempo, gradativamente aplicadas em regiões mais atrasadas, conforme se ampliam os interesses do capital. Tomemos como comprovação, o dado do fechamento das escolas, que no ano de 2014, o número chegou a 4.084. A leitura dos dados apresentados pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP - o Nordeste, e mais propriamente as regiões semi-áridas de alguns estados, lideram os fechamentos. Das 4.084 escolas fechadas em um ano, 872 estavam no Estado da Bahia, tendo o município de Euclides da Cunha, com 56.289 mil habitantes, sendo que, 28.873 residem na agricultura, foi contemplado com o fechamento de 29 escolas, ou seja, uma para cada mil famílias. Depois vem o Maranhão, com 407 e o Estado do Piauí, com 377 escolas fechadas.
            Poderíamos facilmente concluir que o fechamento das escolas do campo, nessa região Nordeste do país, há anos em funcionamento, se deve ao pouco desenvolvimento econômico e social que inviabiliza a própria permanência dos pequenos camponeses na atividade agrícola. Mas a curiosidade aguça a pesquisa e nos leva a procurar alguma explicação do ponto de vista das sociedades “mais avançadas”, e nos deparamos com o projeto MATOPIBA[1], do governo federal, coordenado pelo Ministério da Agricultura e pela EMBRAPA, que atingirá uma área de 73.173.485 milhões de hectares, abrangendo 337 municípios dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia; ou seja, regiões dos três Estados onde foi fechada a maior parte das escolas do campo no ano de 2014. O que será feito nesses lugares de economia atrasada? O que já foi feito em regiões de economia capitalista avançada. 
            Sobre essa situação podemos levantar a hipótese de que, dentre todas as ofensivas, a do fechamento das escolas é a forma de expulsão mais cruel encontrada. Sendo a escola um componente cultural fundamental, a busca por ela é prioritária quando se trata de deslocamento, seja para participar de uma ocupação de terra ou para migrar para outras regiões em busca de trabalho. Colocada diante da estratégia do avanço do capital, para não intervir com o método da “violenta” expulsão, começa-se por fechar as escolas em massa, com o objetivo de desestabilizar as famílias camponesas pela negação da educação. É claro que a retirada da escola, e não importa a sua qualidade, é um ataque direto e mal intencionado do “partido sem escola” contra a resistência dos sujeitos que habitam a terra cobiçada.
            A ideologia da “Escola sem partido” é o projeto ainda mais perverso que o “Partido sem escola” quer para o campo. Se na cidade "fecham a boca" dos professores, no campo fecham as escolas. É preciso reagir, para que não nos tornem verdadeiros analfabetos políticos. Sejamos sempre, sujeitos defensores da “Escola com partido”, a escola da luta de classes.


[1] O projeto MATOPIBA criado pelo governo Federal através decreto 8.447 de 6 de maio de 2015, é o resultado do estudo de alguns anos e visa a implantação de programas que visem o desenvolvimento econômico da região, naturalmente ligados ao agronegócio.  O nome se deve à combinação das siglas dos Estados envolvidos.